quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ator faz 'curso intensivo' para interpretar Lula no cinema


Tay Lopes engordou seis quilos dos dez que prevê ganhar até o início do ano que vem. Entrou em uma turma do Senai em São Paulo para aprender torno mecânico, está deixando a barba crescer, vai a reuniões de sindicatos e vê vídeos sobre as greves do final dos anos 70. Treina fazer a língua presa, mas apenas vez ou outra, para não soar uma caricatura da figura que interpretará em seu segundo trabalho no cinema.
Tay Lopes, ao lado de reportagens antigas sobre Lula
Aos 29 anos, o ator recifense precisa ficar parecido com o presidente Lula até janeiro de 2009. Ele será Luiz Inácio Lula da Silva dos 18 aos 35 anos no filme Lula — O Filho do Brasil, de Fábio Barreto. Desde a seleção para o papel, Lopes vive um "intensivo" que inclui aulas de musculação, encontros com uma nutricionista e estudos sobre a vida do presidente. O ator está lendo agora o livro de Denise Paraná, que tem o mesmo título e inspira o roteiro do longa-metragem.

“A cada dificuldade, desafio, perda, ele (Lula) viveu uma transformação”, afirma o ator — que não diz se votou no presidente ("Precisa mesmo responder isso?"), mas conta que foi para a Avenida Paulista comemorar sua vitória no primeiro mandato. Antes de aparecer como o pastor Jaziel em Última Parada 174, sua única atuação fora do teatro havia sido em A Pedra do Reino, minissérie da Globo, de Luiz Fernando Carvalho.

“Eu disse: ‘Ainda vou trabalhar com esse cara’. E fui”, conta Lopes. Aos 11, ele diz, foi a mesma história: “Eu disse: ‘Vou trabalhar em teatro’. E fui”. Ao lado dele, a produtora Paula Barreto emenda: “Tá vendo? Ele tem a garra do Lula”.

"Hipopocaré"

Lopes se mudou para São Paulo em 1999, depois de ter participado de "todos os grupos amadores" de Recife, de ter interpretado um "hipopocaré" (mistura de hipopótamo e jacaré) com corpo de espuma num espetáculo e de ter feito peça até em campo de futebol (A Paixão de Cristo). Começou a trabalhar como garçom num restaurante nos Jardins que, segundo ele, recebia muitos atores e diretores de teatro. “Me capitalizei, sabe?”, diz Lopes, sobre os contatos que fez e que o levaram ao grupo paulista XPTO.

Mais tarde, depois de ter feito Última Parada 174, foi convidado por Antonio Abujamra para trabalhar em Os Possessos. Lá, ouviu do diretor: “Você está com um naturalismo que funciona bem em TV e cinema”. E confessa: “Fiquei com aquilo na cabeça. Fiz o teste para Lula e, quando soube do resultado, liguei correndo para minha mãe, minha Lindu (mãe do presidente Lula), e meu pai", conta e, em seguida, começa a chorar.

No longa-metragem, a cena do enterro de Lindu — que morreu em 1980, quando Lula estava preso — vai encerrar o filme. Usando barba importada, já que a sua foi considerada "insuficiente" pela produção, Lopes se mudou para São Paulo entrará num carro preto depois de discursar para "uma multidão" no cemitério de São Bernardo.

Com efeito de fusão, a cena que o público verá na tela em seguida é a do próprio presidente no carro, rumo ao discurso da posse — a única com imagens de arquivo e com Lula já no cargo. Para Lopes, “a preocupação é a alma do homem”. “Não dá para ser mimético, porque seria de fora para dentro”, analisa o ator. “É para ser Lula não sendo. É a minha memória e muitas coisas coincidindo.”

“Lula bebê”

Orçado em R$ 12 milhões para produção mais R$ 4 milhões para comercialização, Lula — O Filho do Brasil não buscou incentivo na Lei Rouanet — mas pretende fechar co-produções com países como Argentina, França, Itália e Estados Unidos. Além de Tay Lopes, a produção precisa de atores para viver o presidente em outras fases de sua vida, com participações menores no filme.

A pesquisa de elenco será dividida entre os estados de Pernambuco e São Paulo. O Lula bebê e o Lula de dois a três anos de idade serão procurados na pernambucana Garanhuns (terra natal de Lula). Em São Paulo, a produção pretende encontrar os atores para viver Lula criança, de cinco a sete anos, e Lula adolescente, de 12 a 15 anos.

Segundo Paula Barreto, a produtora, ainda é preciso encontrar os atores que viverão os sete irmãos do presidente que aparecem no filme. “É uma superprodução. Vamos mostrar uma das maiores migrações da história (a vinda de nordestinos para o Sudeste), inundações, greves, desabamentos.”

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